Dr. Cássio Andreoni

O que é Feocromocitoma?

Atualizado em 30/08/2021
Tempo de leitura: 4 min.

Feocromocitoma é um tumor incomum produtor de adrenalina originado nas glândulas adrenais ou supra-renais, porém que tem potencial de risco de vida ao acometido, portanto, merece estar atento ao médico generalista.

Feocromocitoma é incomum sendo menos de 1% dos casos de hipertensão arterial (pressão alta).

Feocromocitoma na maior parte dos casos é benigno, porém existem casos malignos.

Os pacientes com Feocromocitoma têm 90% de chance de serem curados após tratamento adequado, no entanto se deixados sem tratamento ou se este for inadequado, estes podem ter uma evolução fatal.

Sintomas de Feocromocitoma

Os sintomas são em decorrência da liberação de adrenalina na circulação, também conhecidos como paroxísmos:

  • Pressão alta (hipertensão arterial)
  • Taquicardia (batedeira no peito)
  • Suor sem fazer esforço ou sem calor
  • Palidez cutânea (fica “amarelo”)

Em muitos casos, o “paroxísmo” não ocorre de forma tão nítida e pode haver apenas um dos sintomas mais exacerbados e outros menos intensos, o que pelas características do quadro pode levar a alguns pacientes serem confundidos como terem “síndrome do pânico” e “alterações de pressão emocional”, o que pode retardar diagnóstico.

As crises de pressão alta podem ser muito exacerbadas criando riscos de complicações secundárias como um AVC (“derrame cerebral”) ou infarto no coração, o que nesses casos, o paciente terá uma entrada no pronto socorro com quadro clínico dessas complicações, fazendo com que o diagnóstico de Feocromocitoma seja feito demorado.

Avaliação e Diagnóstico de Feocromocitoma

Por ser uma doença de potencial de complicações mais graves, a avaliação do paciente com Feocromocitoma deve ser feita por médico experiente, sendo que em se tendo uma suspeita, o paciente deve ser encaminhado para um especialista para avaliação (endocrinologista é o médico que mais frequentemente tem essa especialização, porém outros clínicos podem ter experiência também).

Em se descartando um quadro de complicação, o paciente deve receber medicações que controlem os picos de pressão alta, muitas vezes com drogas do grupo de alfabloqueadores. Muito cuidado deve-se ter com introdução e parada de uso de beta-bloqueadores para amenizar as crises de taquicardia.

Devido à liberação contínua de adrenalina no corpo, várias alterações vão ocorrendo como:

  • Aumento da glicose no sangue que pode ser falsamente confundida com Diabetes Mellitus e causar problemas antes ou depois de cirurgia em decorrência de uso inadequado de remédios para Diabetes;
  • Volume de sangue total menor, o que paradoxalmente pode causar queda abrupta da pressão com introdução de alfabloqueadores e pode ser necessário pedir para o paciente beber mais liquido e não tirar o sal da comida, diferente de outros casos de hipertensão. Portanto, deve-se aguardar cerca de um mês entre o inicio das drogas para baixar pressão.

O diagnóstico é feito por análises clínicas (sangue e urina) e por exames de imagem:

  • Sangue e urina de 24h: medidas de adrenalina, noradrenalina, dopamina e metanefrinas são avaliadas e relacionadas com resto do quadro;
  • A tomografia computadorizada ou ressonância devem ser direcionadas à avaliação no local das adrenais, exames usuais para o abdome total podem ser limitados. (veja figura 1 mostrando uma característica peculiar do Feocromocitoma na ressonância sendo acinzentado em T1 e ficando branco em T2). Um médico de diagnóstico por imagem especializado em adrenal é recomendado fazer a leitura dos exames;
A imagem mostra tumores detectados pela ressonância magnética.
  • Idealmente, devido à complexidade da doença associado a pouca frequência é importante que uma equipe multidisciplinar experiente assuma o caso, sendo importante que tenha um clínico (endodrinologista, radiologista, urologista para cirurgia, anestesista e equipe de UTI bem equipada);
  • Nosso grupo demonstrou uma subcategoria de Feocromocitoma, quando o mesmo é cístico podendo ter características clínicas diferentes como dor no lado acometido, menor índice de alterações bioquímicas e imagem peculiar.
    Cassio Andreoni, Suzan M. Goldman, Claudio Kater.
    BJU Int 2008,Feb;101(3):345-50. CysticPhaeochromocytoma Is a Distinctive Subgroup With Special Clinical, Imaging and Histological Features That Might Mislead the Diagnosis.

Tratamento de Feocromocitoma

O tratamento definitivo do Feocromocitoma é a remoção cirúrgica. Devido à localização da adrenal nos dois lados perto de estruturas vasculares como veia cava e aorta, o risco de sangramento deve obedecer a cuidados particulares, bem como possibilidade de lesão de órgãos importantes como fígado, baço, pâncreas e intestinos. Além disso, ao encostar-se ao tumor durante a cirurgia pode ter liberação abrupta de adrenalina e cirurgia ter que ser interrompida e drogas especiais serem administradas, tornando todo o procedimento cirúrgico mais delicado.

A cirurgia apenas deve ser agendada no mínimo cerca de um mês após início de medicamentos para abaixar a pressão apropriadamente seguida de perto para que o controle ocorra e que a dose das drogas seja aumentada gradualmente segundo necessidade e monitorização pelo médico responsável, como demonstrado em estudo de nosso grupo, sendo importante equipe multidisciplinar experiente contando com bom suporte de terapia intensiva no primeiro dia pós-operatório.( Cássio Andreoni, Susan M. Goldman e Claudio Kater. Advances in Pheochromocytoma Management in the Era of Laparoscopy. J Endourol 2007 Nov;21(11):1303-7).

A cirurgia pode ser minimamente invasiva ou por cirurgia tradicional aberta.

A cirurgia laparoscópica ou robótica utiliza equipamentos especiais com tecnologia e é imprescindível o treinamento apropriado com essa técnica para segurança e eficiência do tratamento cirúrgico.

Estudo realizado por nosso grupo demonstrou que é possível realizar laparoscopia minimamente invasiva em 84% dos casos, o que proporciona menos dor, recuperação mais rápida, melhor efeito estético da ferida operatória, menor sangramento (The new era of adrenal surgery. Cassio Andreoni et al. J Endourol, 17 (S1): 70, 2003). Veja figura 2.

Alguns estudos também demonstram que os níveis de adrenalina em cirurgia laparoscópica atingem picos menores do que em cirurgia aberta sendo mais tranquilo o controle de hipertensão durante o intra-operatório.

Os pacientes operados de Feocromocitoma devem fazer o primeiro dia de pós-operatório na UTI, monitorando além do básico, a pressão arterial e níveis de glicose que podem cair.

Após a alta hospitalar, o paciente deve seguir monitorando-se a pressão arterial que ainda pode alterar. Eventuais testes genéticos e moleculares podem ser feitos para verificar possibilidade de transmissão hereditária.

Dr. Cassio Andreoni Ribeiro

CRM 78546
RQE 102167 - Urologista

Urologista formado na Universidade Federal de São Paulo, há 25 anos e qualificado em cirurgia minimamente invasiva e robótica.

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